19 de mar. de 2010


Homendigo e a Barata:

"Ela veio pelo cheiro. Roeu dois cigarros enquanto eu estava no banheiro. Nada sobrara da compra dos artigos de primeira necessidade, portanto nada de varejão. Tirei o tabaco de todas as guimbas com muita atenção. Numa seda bem fina apertei com precisão. No primeiro trago, uma conclusão: o filtro salva mesmo. O cachorro da madame ao lado com seu ultrafaro reclama ganindo que a coisa tá feia. A nicotina passeia na veia. Nem um litro d'água (nem mesmo gelada, nem mesmo da fonte) auxilia na visão da esperança que vem do quente horizonte.
Ela veio pela janela. Ninguém viu, ouviu ou sentiu seu aroma de lixo nas proximidades de seus respectivos lugares de estagnação. A surpresa saltou no momento em que o organismo pediu a dose (o já tão acostumado organismo) e foi respondido com clamor. Ela havia saciado sua fome de porcarias devorando os meus cigarros e ainda deu um passeio ao redor da minha mão direita, que, instantaneamente, balançou-se no ar, lançando a voadora ao chão.
Ela veio pela obra inacabada do meu vizinho. Precisei matá-la com uma chinelada certeira. Voando ela é ágil, mas quando pousa... Foi fácil, fácil... Espero que os senhores entendam a minha situação. Ela me privou de um remédio eficaz, minha fúria triplicou e o resto os senhores já sabem. Ou não sabem? Posso começar a contar tudo outra vez, caso prefiram. Só quero dar logo um basta nesta situação incômoda na qual me encontro agora."

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